sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

"O Poder do Olhar" ou o Olhar do Poder

O olhar é o espelho da alma, é uma expressão que tem tanto de recorrente como de verdadeira, o olhar "fala" com a intensidade do seu brilho, mostra o seu nervosismo num pestanejar repetido, mostra a dor numa lágrima furtiva, e também trai a boca quando esta diz o que não sente.
Um olhar pode conquistar, um olhar pode afastar...pode ser meigo, como pode ser pleno de ódio, mas o olhar é no corpo humano o que melhor capta a essência do que será a alma.


Há muito tempo que já me surgiu a ideia de escrever sobre algo que me fascina, perturba, e que arrasta um sentimento de inquietante estranheza. A questão do olhar envolve dúvidas, porque nem as certezas asseguram o que é real ou verdade. Posso duvidar que os olhos sejam o espelho da alma, os veículos de uma essência tão complexa, mesmo impossível de se reflectir totalmente pelo olhar. Correndo no perigo de cair num texto pobre que nem chega a desabrochar, simplifico a minha proposta: o olhar pode mentir e ser traído pela boca. A boca transmite sinais, os olhos emitem sinais. Estas duas acções são executadas em consonância ou em divergência, intencionalmente ou acidentalmente, com distracção ou consciência; não temos o poder de distinguir a verdade ou a mentira de um olhar. Temos pena. O que distinguimos não é realidade mas um simulacro, uma encenação. A combinação de relações entre um olhar (sinal emitido) e a boca (que transmite sinais) é infinita - depende das vivências, experiências e de expectativas, nossas e dos outros.

Não confio nas bocas, acredito no que vejo: sinais que emitem e transmitem informações. Sinais que podem fugir ao controlo e cuja veracidade é relativa de pessoa para pessoa. Sei saborear um olhar sedutor que intimida, todavia sei tropeçar nos sinais (mal interpretados) que dou e recebo. Viver com esta consciência afecta a tranquilidade do simples olhar - o OLHAR nú, sem expectativas, extinguiu-se dentro do círculo social e sobra para a obra de arte que se contempla.

Negação confusa de evidências? Cepticismo exacerbado? Inquietação depressiva? Se os olhos espelham a alma com tanta certeza...o que será dos cegos, dos estrábicos ou dos vesgos...

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