sábado, 11 de dezembro de 2010

Mulheres na construção civil

Pesquisa apresentada pelo ‘Pequenas Empresas Grandes Negócios’ indica que 54% das compras de materiais de construção são decididas por mulheres. Geralmente são donas de casa que acompanham os maridos na escolha dos materiais para construir suas próprias casas. Outras são elas próprias as responsáveis pela renda e investimento familiar.

Mas existe também um percentual crescente de profissionais (engenheiras, arquitetas, decoradoras, pintoras, bombeiras, eletricistas, azulejistas...) que influenciam na compra dos seus clientes. Estudos mostram que as mulheres estão conquistando cada vez mais o setor da construção civil, até pouco tempo considerado reduto masculino.

As pesquisas confirmam esta tendência do mercado percebida pela Castelo Forte nos últimos anos. À medida que as mulheres conquistam espaço a empresa se adapta para melhor atendê-las: a apresentação das lojas se transforma, os produtos são expostos de modo diferente e o atendimento fica mais refinado.   

Porque, segundo estudos, as mulheres são mais criteriosas, caprichosas e organizadas do que os homens. Estão atentas não apenas aos preços, mas também à diversidade e qualidade dos produtos. Na escolha dos produtos combinam cores e formas, como quem enxerga a casa pronta e arrumada.


Clientes

Aparecida Leal Santos e José Santos são casados, moram em Samambaia e estão construindo sua casa. José admite a influencia da esposa na hora de decidir a compra. “Às vezes discutimos e ela acaba me convencendo a comprar aquilo que ela escolheu”.

“Normalmente sou eu que escolho a cerâmica, as peças de acabamento do banheiro e as tintas”, diz Aparecida. “Sou mais sensível que ele para a decoração, mas na planta da casa também decidimos juntos como seriam os quartos, a suíte, a cozinha, a área de serviço. Está saindo tudo como eu tinha sonhado”.

O provedor é o José, mas é a Aparecida que administra. “Nossa casa é uma planta econômica com três andares (278m²). O terreno é pequeno, então tivemos que construir para cima. Já construímos outras casas onde moram nossos filhos casados. Acompanho de perto o trabalho dos pedreiros para ver se está saindo tudo certo. Nós mulheres batemos o olho e vemos logo se um cômodo está fora do esquadro ou se uma parede está fora do prumo”.

A loja também é escolhida com critério. “Ontem passamos por quatro lojas de materiais de construção e escolhemos a Castelo Forte porque foi a que apresentou o melhor preço. Mas também porque achamos que os produtos são bons e tem opções para a gente escolher”, conclui ela.

Vendedora

Tais Alves de Oliveira é vendedora de materiais de construção na Castelo Forte. Seu pai e seu irmão são profissionais da construção civil. Começou a trabalhar com sua irmã que havia montado uma loja voltada para o setor e a convidou para ser vendedora. “Estou vendendo até hoje e não troco este ramo comercial por nenhum outro”, diz ela.

Além da irmã, Tais cita várias mulheres envolvidas com a construção civil. “Conheci uma moça que fez curso para bombeiro e eletricista no SESC. Hoje ela está no mercado de trabalho e muito bem empregada. Vendedoras eu conheço várias. Tenho uma prima em Goiânia que é arquiteta”.

Quanto ao preconceito, Tais concorda que ainda é grande a discriminação contra mulheres que trabalham nas obras. “Mesmo aqui na loja às vezes chegam clientes que evitam comprar comigo acreditando que, por ser mulher, eu não entendo do assunto. Mudam de idéia quando percebem que alguns dos meus colegas vendedores, menos experientes, vêm me pedir informações e opiniões”.

A Castelo Forte dispensa igual tratamento para seus colaboradores, homens e mulheres. Com oportunidades iguais, Tais se destaca pelo volume de vendas. “Nesta loja sou a única vendedora. Trabalho de igual para igual com meus colegas, sem nenhum problema. Tenho uma clientela muito boa conquistada com base na confiança e no bom atendimento. Percebo que tenho mais facilidade para atender as clientes mulheres. Acho que elas se sentem mais seguras em tratar com uma mulher”.

Profissionais na obra

Segundo reportagem do Jornal de Brasília “a construção civil está utilizando a mão-de-obra feminina para fazer acabamentos, montar azulejo, rejuntar e limpar. ‘Elas são mais organizadas e caprichosas. Não deixam bagunça’, diz Rodrigo Greco, engenheiro responsável por um prédio em Águas Claras, construído pela ACNT”.

Em matéria veiculada no Globo Comunidade as profissionais garantem que seu trabalho é muito mais bonito que o dos homens, por se preocuparem com todos os detalhes. Maria dos Anjos era empregada doméstica e optou pela construção civil. "Minha vizinha trabalhava na obra e me indicou para o serviço. Como doméstica, eu era mais discriminada, tinha mais obrigações e não era tão respeitada”.

No Rio de Janeiro Raquel ensinou técnicas de segurança para os operários que construíram um edifício no Recreio dos Bandeirantes, Zona Oeste, do qual Elissandra foi contratada para cuidar do Sistema de Gestão da Qualidade. Paula foi a técnica de instalações e cuidou de toda a parte elétrica e hidráulica da obra. A construtora responsável recebeu o certificado de qualidade ISO 9001 por esta construção.

Os operários as respeitam, “tanto como mulheres quanto como profissionais”, diz Raquel. “Meu pai me deu apoio para trabalhar na construção civil, porque viu que estou à frente de mulheres que têm preconceito com determinadas profissões”, diz Elissandra. “Inicialmente meu pai se espantou, mas depois se acostumou com a idéia”, acrescenta Paula, ressaltando que na construção civil o salário é bom.

Em Portugal, o jornal Luso Mundo recomendou “que ninguém se admirasse se um dia destes observar mulheres a trabalhar nas obras. Elas andam a aprender. Oito estão a freqüentar o curso de construção civil e constituem metade da turma em formação”. Nascida em S. Tomé, Luísa Pereira, 31 anos, disse que "meu pai não acreditou quando lhe telefonei a dizer que estava a tirar um curso para ir trabalhar para as obras. Mas acabou por incentivar-me, pois quero aprender o suficiente para, um dia, fazer a minha casa e para ir trabalhar numa empresa de construção civil".

Pioneiras

Em novembro de 2005 a biblioteca central da Universidade de Brasília apresentou mostra que retrata a participação feminina na construção de Brasília. A pesquisa e as fotos estão no acervo do Núcleo de Estudos da Cultura, Oralidade, Imagem e Memória, da universidade.

Este acervo resgata e preserva a história contada por pessoas que trabalharam na construção de Brasília, ou que moravam na região antes do Distrito Federal. A mostra enfatizou a presença das mulheres no início da cidade, em meio à construção civil e ao longo dos acampamentos transformados em vilas e cidades.

A partir do depoimento de mulheres foram retomadas imagens de pioneirismo e de trabalho na construção civil, de convívio e de ajuda nas comunidades, de conflitos e de lutas. São materiais educativos e culturais sobre a cidade, na ótica de pessoas comuns, nem sempre consideradas como construtoras da história, enfocando o papel das mulheres na história de Brasília.

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